segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Reminiscências das Primeiras Noites

O assassino fala:

Era noite e eu espreitava pelos jardins do convento. Ela corria desesperadamente com a criança em seus braços, até que parou tentando recuperar-se do cansaço. Estava visivelmente debilitada, afinal. Eu me aproximei vagarosamente e quase de maneira silenciosa dei-lhe o golpe fatal. Não deu tempo de soltar um grito. Ela tombou no chão vagarosamente, tendo o cuidado de proteger a criança da queda. Seu rosto estava contorcido pela dor, provavelmente por não mais poder proteger sua cria. Havia ainda uma lágrima em seus olhos. A criança não chorou, não expressou o menor desconforto, apenas se aninhou em meus braços, que a levavam rapidamente para seu destino. Em pouco tempo dormia. a criança foi enviada como órfão para "a ilha" onde poderá viver normalmente, sem ter a consciencia de sua origem impura. Que deus tenha piedade de mim, mesmo sabendo que o que fiz não tem perdão, me conforta saber quen era necessário e que a criança nunca saberá do que aconteceu.

A madre superior fala:

O que devia ser feito, está feito, hoje, dia 14 de junho de 1345 Marie foi mandada para "a ilha", onde será educada apropriadamente. Estarei sendo transferida para lá daqui a um mês. Incrivelmente a criança tem saúde e por isso não terá o mesmo destino das outras. Rezo todos os dias para que o nosso pecado seja perdoado.Deus e nosso senhor Jesus cristo tenha piedade de nós e de Marie.

A vítima fala:

Em breve o bebê vai nascer. rezo todos os dias para que seja uma menina, para ser educada como eu, para ser uma noviça, como eu um dia fui. Que a virgem Maria possa rogar por mim, agora que não tenho salvação. Eu sei o destino que me espera, mas NÃO TENHO MEDO POR MIM. não por mim senhor, mas por quem está em meu ventre. Eu vou fugir, talvez outro convento me acolha por um tempo e aceite criar o bebê. Quanto ao destino que me aguarda, é inevitável. É impossível fugir por muito tempo. Espero viver para salvar a última parte de mim na terra. Espero que o seu destino seja melhor que o meu.

O verdadeiro assassino fala:

Eu fui informado de que em breve o bebê vai nascer. Todos já estão informados e vigiam-na o tempo todo. Logicamente ela não sabe o que a aguarda. É só uma questão de tempo. A criança, se for uma menina e gozar de boa saúde poderá ser mandada para "a ilha" e ser educada como uma verdadeira e virtuosa filha de um arcebispo. Se tudo acontecer como planejado Madeleine será executada logo após o parto.

A VERDADEIRA vítima fala:

Foi uma execução rápida e quase indolor. Meu senhor contou-me sobre a minha origem e mostrou-me uma carta de minha verdadeira mãe e do meu odioso pai. Não pude deixar de sucumbir à besta. Não sobrou nem mesmo uma alma impura naquele lugar. Eu odeio aquele lugar...Eu odeio essa imundicie que é o cristianismo hipócrita. Fingir rezar e querer morrer. Fingir amar a "santa madre igreja" e sentir asco de seus sacerdotes imundos. "Homens santos" que violaram minha mãe, me trouxeram ao mundo e me deixaram "na ilha". Pensando bem, não será tão ruim assim para eles...Já que queimarão no inferno que eles tanto me ameaçaram queimar se não cumprisse as minha penitências corretamente... Bastardos! Agora que sei QUEM foi a minha mãe, QUEM foi meu odioso pai, e que todo os envolvidos nessa sujeira queimam no inferno de vez e isso não significa mais muita coisa para mim. Agora eu sei meu verdadeiro poder e propósito. Agora pesquiso incessantemente o grande mistério. Meu senhor diz que o que aconteceu foi muito importante para a minha formação e que às vezes é preciso conhecer a besta que existe dentro de nós, para melhor dominá-la.

Augustus fala:

Marie faz progressos incríveis. Me enche de entusiasmo seu precoce interesse pelo grande mistério. Sobre o incidente na "ilha", considero que tenha sido importante para seu definitivo rompimento com aquele lugar. O único inconveniente é que os habitantes da localidade agora sussuram temerosamente sobre anjos do inferno que profanam igrejas, criaturas vis sedentas por sangue. Não consigo imaginar como Marie, com todo aquele esplendor e graça comparáveis à beleza inefável da virgem tenha ganhado uma alcunha tão injusta...Tão bela e tão cruel...Infelizmente seremos obrigados a deixar este lugar. Lembro-me bem de seu rosto ao luar, nas vésperas de tornar-se uma freira. Todos os dias caminhava pelo cemitério do convento, sequer sabia quantas crianças, quantos bebês inocentes foram ali executados e ali mesmo enterrados numa vala comum; contra todos os princípios cristãos de respeito aos mortos. Lembro-me bem quando ia acompanhar os velórios, de seu precoce interesse pela morte. Parecia se divertir muito com aqueles rituais. Quando alguém morria, ela velava o corpo até o fim e às vezes, distraída sorria (coisa que em nenhum outro momento fazia). Mas como era belo o seu sorriso!

O sobrevivente fala:

Foi uma madrugada de horrores! Por Deus e o Nosso Senhor Jesus Cristo, não existe no mundo criatura mais medonha. Sinto um frio terrível sobre a minha pele quando eu lembro. Que demônio terrivel foi esse que roubou o corpo de nossa inocente Marie? Não consigo imaginar porque Deus permitiu que tal desgraça se abatesse sobre nós. Lembro que no momento ouvi a madre superior pedindo perdão, porque seu pecado era grande demais. Sua voz horrenda de pavor não sai de minha memória. Eu fui o único sobrevivente e preferia, juro pelo que é mais sagrado, que preferia morrer junto, para não ter que suportar a dor de lembrar. O demônio que nos atacou causou verdadeiro pânico no vilarejo. Chamam-no, no antigo idioma, de Mensageiro da Morte: MORDRED.

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