domingo, 14 de junho de 2009

O Aprendizado - 2

- Marie, eu preciso que você entenda o quão importante é esta meditação e que ela é também arriscada - Julius encarou Marie com seu gesto peculiarmente grave e em seguida desviou o olhar - se não fores capaz de realizá-la podes sucumbir ao frenesi e talvez ficar insana. Eu preciso saber se tens segurança de que podes prosseguir.

- Venho me preparando com afinco. Tenho certeza de que estou preparada. - Marie ouviu sua voz soar infantil demais e um pouco estridente até, lembrando-a do fato de que tinha pouco mais do que 18 anos.

- Entenda que temo por ti, porque existem coisas que uma vez despertas não podem silenciar. Posso confiar nas tuas palavras?

- Agora e para sempre, mestre.

- Marie, entre no caixão - Marie entrou rapidamente no caixão, como se quisesse assim demonstrar sua confiança.

- Estou pronta.

- Marie, preciso que você ouça atentamente a minha voz e faça exatamente o que eu ordenar, do contrário alguma coisa imprevisível pode acontecer. Marie, eu quero que retorne à primeira vez que sucumbiste à besta, no convento, quando mataste teu pai. Volta ao exato instante em que você o drenou. Pode sentir a vida dele se esvaindo entre teus dentes?

- Posso. Meu corpo se estremeceu e eu queria dilacerar sua alma, parti-la em mil pedaços.

- Tenha calma. Você precisa reviver o assassinato sem sucumbir à besta. Este assassínio serve unicamente para expurgar este mal do mundo. Você o puniu por sua perversão, mas agora o peso desta morte precisa deixar teu corpo. Você precisar controlar a besta dentro de você agora!

- Julius, a alma dele habita meu corpo. Posso ver suas lembranças, posso ver seus crimes.

- Eu imaginei que sim. Tem uma pedra junto a teu corpo. Você precisa colocar a alma dele, junto com suas lembranças, dentro desta pedra. É o único jeito de te livrares desta assombração.

- Eu não sei fazer isso. O que preciso fazer? Por que a alma dele está em meu corpo?

- Vocês tinham uma ligação sangüínea, é um laço difícil de absorver e além disto, ele era um feiticeiro e não um homem comum. Você precisa voltar ao instante da morte, você precisa ver a morte como se fosse ele mesmo.

- Não! Tudo menos isso! - nesse instante o caixão começou a estremecer e a tampa rapidamente se abriu com um grito avassalador. Marie estava agora no chão, soluçando seu doloroso aprendizado. Seu rosto estava contorcido e seus punhos cerrados.

- Marie, minha criança! Que foi que fiz! Fala comigo Marie!

- Ele não está mais aqui...Ele se foi.

- Receio que não querida. Acho que você o libertou no mundo...Tenho medo de que ele permaneça ligado a ti. Para seres da descendência dos Capadocius é preciso aprender a ser um cadáver, a enxergar a morte em seu derradeiro instante. Você precisa aprender a morrer. Sua vida como você conhecia antes, não há, mas sua alma permanece, então você morre através de tuas vítimas. Não mate os bons, por causa do castigo, mas não mate os maus se não puder destruir suas almas, ao invés de libertá-las pelo mundo. Olhe pra mim, Marie! - Marie o encarou com seu olhar infantil e um pouco impreciso - Eu preciso que você aprenda todo o necessário antes da minha partida. Você é minha descendência. - Marie quis abrir a boca e perguntar algo, mas se aninhou no colo de Julius, nada mais poderia fazer-lhe mal.

Um comentário:

Roberto Ney disse...

Este mês o Ó Com Copo comemora 1 ano e é muito bom ter seu Blog fazendo parte desse nosso vórtice de palavras...

"Todo indivíduo possui um potencial criador incomensurável. Um vórtice de idéias e ideais que se misturam ao acaso. Letras, palavras, sons e silêncio. Escrever é compartilhar sentimentos. Então, façamos desse vórtice um devorador de emoções. Escrevam e compartilhem."

Boas Festas!
E que 2010 seja um ano de muitas inspirações!

Roberto Ney ( Blog Ó Com Copo).