sábado, 10 de julho de 2010

O Exílio em Veneza - Parte 1

Veneza tem o estranho e envolvente cheiro da morte. Eu gosto disto! As ruas ganharam uma coloração diferente desde que despertei, afinal, estamos no ano de 1801 e tudo é novo e diferente para mim. Desde que cheguei em Veneza passaram-se 441 anos! Este longo sono me modificou de forma irreversível e apesar de estar encantada com os novos ares de Veneza, não sei se conseguirei permanecer aqui. Os ventos me chamam para outros lugares...
Certo dia passei em frente a uma igreja e senti uma mistura de aversão com nostalgia e enquanto tinha devaneios sobre a vida antes de Julius, percebi um doce som que não consegui reconhecer, então me aproximei; o som vinha do cemitério da igreja. Um jovem esquálido empunhava um belo intrumento de quatro cordas de forma graciosa porém imponente. Parecia que ele e o instrumento formavam uma única e perfeita entidade musical.
Me aproximei mais para entender o que acontecia e de súbito revelei minha presença até então oculta. Ele ficou visivelmente assustado ao ouvir minha voz cumprimentando-o, decerto se perguntou como poderia eu chegar tão perto sem que ele tivesse percebido e logo depois seu rosto expressou um franco alívio, talvez por se tratar de uma mulher, uma "jovem" mulher. Quando perguntei seu nome, ele respondeu cheio de si "Paganini". Ao perceber que aquele nome nada significava para para mim, me contou cheio de orgulho que era o maior violinista de seu tempo e qual não foi sua surpresa quando exclamei "Ah, então isso é um violino?".
Paganini (seu primeiro nome é Nicolo) é uma pessoa inacreditável! Ficou então muito tempo me explicando sobre música, instrumentos de corda, sua técnica... Depois deste encontro, me despedi. É verão e muitas noites como esta se repetirão.

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